Uma lua de inverno

Uma lua de inverno

domingo, fevereiro 16, 2014

Por um café que acorde pra vida!

Ela esvaziou a caneca de café em vão. Não se acorda para a vida nem com várias canecas de café, no máximo se desperta para um dia a mais, um dia a mais de trabalho.
O café, pensava ela, há de me fazer ver melhor porque 'cargas d' água ela insiste', teima e reluta. Não deixa ir, se apega. Irrita-se, claro! Duro arrancar do peito, da cabeça, enfim, do corpo inteiro alguém que se ama há tanto tempo.
Mas, hoje ela entrou na cozinha da casa dele, mais café? Não era bem isso. Olhou nos dele e viu o desconhecido. Como assim? Não era ele? O amor da vida? Era e não era. Não mais. Ele não a quer mais. Tolera! Quiçá uma certa dose de pena, ou até um com um toque de culpa. Aliás, quem  não se culpa por não ter/poder retribuir o amor que lhe é endereçado? Porém, pena não é amor. Culpa não é tesão. Nem serve, não cabe, não contenta.
E ela, após todo esse tempo ainda não consegue acordar. Bem acordar, deixar ir. Crer que é possível viver sem ele, posto que de fato ele não está mais ao lado dela há tempos. E é no tempo que ela se perde, porque se agarra a uma época em que os lábios selavam o que as almas já tinham tocado bem antes, tal como estão os relâmpagos para os trovões.
Porque este café não ajuda, ela se pergunta? Nem se dá conta que essa uma caneca de café pela primeira vez a fez perceber que os olhos dele miravam além dela. Ouviu The  Turtles pela última vez. 
Mais café, longe dali, se faz favor.

Não mais felizes juntos:

quinta-feira, setembro 08, 2011

Já conseguiram criar o outro onde havia antes o povo


Quem tem qualquer coisa a bater errado no coração sabe tb que tem no motor principal do corpo um certo problema, ele pode nunca ser a "causa do óbito", porém pode assustar de vez em quando. É a vida! Gosto de boas causas, combater o bom combate. Contudo, a divisão territorial do Pará de repente deixa o meu já magoado coração ainda mais nervoso. Sim, por tudo aquilo que já escrevi aqui e nos grupos nos quais participo. Pego-me a pensar que até pouco tempo onde havia um povo, paraenses de nascença ou de adoção, agora já existe o outro, aquele que está do outro lado, que mesmo antes do resultado do plebiscito já não se julga mais do Pará - aquele do orgulho por ser ou estar onde simbolicamente reside a solitária estrela na Bandeira do Brasil. Criou-se no imaginário de parte desse povo maravilhoso a ideia de não-pertencimento...em todos os lados da disputa. Já disse e expliquei pq sou contra essa divisão desnecessária. O Poder Público precisa, sim, ser chamado a servir a quem o elegeu, a todos, ao povo todo, a toda gente. Mas uma pergunta bate aqui, será que é assim que começam as grandes diásporas? Com essas questões territoriais e que se esvaem em coisas do tipo que vez por outra lemos e ouvimos sobre Amazona e Pará (vide o caso de Amazonino). Espero sinceramente que não. Gosto desse Pará diversificado, múltiplo e de cores, sotaques e relevos diferentes, entretanto, único.

domingo, julho 31, 2011

À doce Maria Helena


Ela sentou-se à cadeira de uma mesa de dois lugares ao meu lado. Um sentar estranho, meio de banda, como se a qualquer momento fosse levantar. Reparei no casaco, leve, mas ainda sim um casaco em pleno verão. Inevitavelmente saiu a pergunta, a senhora sente frio, pois não? Ah! Tem um vento lá fora, respondeu prontamente. Prestei atenção nos olhos verdes, grandes, com uma luz incomum. Pensei lá comigo, essa senhora tem por volta de 65 anos e deve estar espera do marido, pois estava lindamente arranjada. Sim, cabelo impecavelmente no lugar, provavelmente graças a um pouco de laca, lábios discretamente pintados, olhos marcados, tudo cuidadosamente arrumado como se ali estivesse a espera de um encontro. Peço algo para comer, perdi a noção do tempo ao passar o dia inteiro a ler, quando dei por mim, 18h00, por isso queria algo mais substancial, mas naquela altura consegui no máximo uma tosta e uma meia de leite. Enquanto eu esperava pelo "almoço" ela me contou que esperava pela filha, uma delas, com quem iria jantar. Olho para o dedo anelar da mão direita e vejo um anel e duas alianças, realmente, não era pelo marido por quem ela que esperava.

Falou-me das cinco netas, "os homens não quiseram se apresentar nesta família", falou a sorrir. Daí reparei com mais detalhes, os olhos delam sorriam juntos com os lábios. Havia algo de especial naquela senhora, que me fez esquecer a fome e preferir saborear as histórias que contava a comer o pão. A certa altura me falou que era viúva e eu disse a ela que já havia notado no dedo dedos as duas alianças. Tomo um gole do café com leite e desvio o olhar porque sei que ela procurava com um dos dedos enxugar a lágrima antes que ela viesse aos olhos. Não era mesmo pelo marido que ela esperava, ou se calhar, era esse o seu desejo, poder estar a espera pelo companheiro de quase 50 anos de casamento. A gente sente falta não é? Ela confessa mais do que me pergunta.

Quanto mais conversávamos, mais vida parecia ter, e como! Contou-me que tinha 81 anos. Como assim? E a pele pouquissimamente marcada? Ela me disse que não sabia porque, mas era assim mesmo, achou que era gentiliza minha. Nada! Ela realmente me impressionava pela jovialidade, pelos olhos que falavam mais que os lábios e pela honestidade de quem parecia conversar com uma velha amiga. Sim velhas amigas e seus vazios. Contou-me que estava só em casa e resolveu sair, é muito triste estar só em casa com as lembranças, falou-me com a certeza de que eu sabia o que ela quis dizer.

Era magrinha e tinha um telemóvel cuidadosamente colocado sobre a mesa. É, pensei, espera ansiosa pela filha.

Terminei meu lanche e ela me contou que desde que o marido morrera, deixou tudo para as meninas, as duas filhas, e foi morar com uma delas. Afirmei com toda convicção, acho bom, assim a senhora não está só. Novamente o mesmo dedo tenta evitar a lágrima que teimava em sair. Desta vez olhei diretamente para aqueles olhos e disse que uma mulher como ela, qualquer filha estaria muito feliz por tê-la como mãe e sempre por perto. O telemóvel tocou. Falou rapidamente. Era a filha que já estava à espera logo próximo dali. Ela se levanta e abre os braços. Eu a abraço como se o tempo não existisse. Senti o corpo frágil, magro. Ela se depediu e me desejou saúde e que Deus me cuidasse. Eu me despedi e disse o quão afortunada era a família dela por tê-la. Ela me sussura ao meu ouvido, pena que por vezes não nos reconhecem...

Nos beijamos afetuosamenteo no rosto uma da outra. Maria Helena, esse é o nome daquela senhora. Pedi um favor a ela, que quando chegasse ao carro contasse à filha sobre a sorte que ela tem, ao ter Maria Helena.

Provavelmente nunca mais eu encontre com essa senhora. Mas duas coisas me tocaram profundamente. A solidão de quem está mesmo em casa, com a família e sente irreconhecido, ou seria, apartado? A solidão que faz com que as pessoas pareçam peças decorativas, a solidão da velhice. A solidão de quem tem tanto a dizer e ninguém a ouvir.

Senti tanto amor por Maria Helena e recebi tanto amor da parte dela...foi pouco tempo, mas tempo é um elemento estranho quando se fala em afetos.

Maria Helena, que teu tempo de afetos seja muito maior do que o número de vezes que tentas conter tuas lágrimas.

À doce Maria Helena


Ela sentou-se à cadeira de uma mesa de dois lugares ao meu lado. Um sentar estranho, meio de banda, como se a qualquer momento fosse levantar. Reparei no casaco, leve, mas ainda sim um casaco em pleno verão. Inevitavelmente saiu a pergunta, a senhora sente frio, pois não? Ah! Tem um vento lá fora, respondeu prontamente. Prestei atenção nos olhos verdes, grandes, com uma luz incomum. Pensei lá comigo, essa senhora tem por volta de 65 anos e deve estar espera do marido, pois estava lindamente arranjada. Sim, cabelo impecavelmente no lugar, provavelmente graças a um pouco de laca, lábios discretamente pintados, olhos marcados, tudo cuidadosamente arrumado como se ali estivesse a espera de um encontro. Peço algo para comer, perdi a noção do tempo ao passar o dia inteiro a ler, quando dei por mim, 18h00, por isso queria algo mais substancial, mas naquela altura consegui no máximo uma tosta e uma meia de leite. Enquanto eu esperava pelo "almoço" ela me contou que esperava pela filha, uma delas, com quem iria jantar. Olho para o dedo anelar da mão direita e vejo um anel e duas alianças, realmente, não era pelo marido por quem ela que esperava.

Falou-me das cinco netas, "os homens não quiseram se apresentar nesta família", falou a sorrir. Daí reparei com mais detalhes, os olhos delam sorriam juntos com os lábios. Havia algo de especial naquela senhora, que me fez esquecer a fome e preferir saborear as histórias que contava a comer o pão. A certa altura me falou que era viúva e eu disse a ela que já havia notado no dedo dedos as duas alianças. Tomo um gole do café com leite e desvio o olhar porque sei que ela procurava com um dos dedos enxugar a lágrima antes que ela viesse aos olhos. Não era mesmo pelo marido que ela esperava, ou se calhar, era esse o seu desejo, poder estar a espera pelo companheiro de quase 50 anos de casamento. A gente sente falta não é? Ela confessa mais do que me pergunta.

Quanto mais conversávamos, mais vida parecia ter, e como! Contou-me que tinha 81 anos. Como assim? E a pele pouquissimamente marcada? Ela me disse que não sabia porque, mas era assim mesmo, achou que era gentiliza minha. Nada! Ela realmente me impressionava pela jovialidade, pelos olhos que falavam mais que os lábios e pela honestidade de quem parecia conversar com uma velha amiga. Sim velhas amigas e seus vazios. Contou-me que estava só em casa e resolveu sair, é muito triste estar só em casa com as lembranças, falou-me com a certeza de que eu sabia o que ela quis dizer.

Era magrinha e tinha um telemóvel cuidadosamente colocado sobre a mesa. É, pensei, espera ansiosa pela filha.

Terminei meu lanche e ela me contou que desde que o marido morrera, deixou tudo para as meninas, as duas filhas, e foi morar com uma delas. Afirmei com toda convicção, acho bom, assim a senhora não está só. Novamente o mesmo dedo tenta evitar a lágrima que teimava em sair. Desta vez olhei diretamente para aqueles olhos e disse que uma mulher como ela, qualquer filha estaria muito feliz por tê-la como mãe e sempre por perto. O telemóvel tocou. Falou rapidamente. Era a filha que já estava à espera logo próximo dali. Ela se levanta e abre os braços. Eu a abraço como se o tempo não existisse. Senti o corpo frágil, magro. Ela se depediu e me desejou saúde e que Deus cuidade de mim. Eu me despedi e disse o quão afortunada era a família dela por tê-la. Ela me sussura ao meu ouvido, pena que por vezes não nos reconhecem...

Nos beijamos afetuosamenteo no rosto uma da outra. Maria Helena, esse é o nome daquela senhora. Pedi um favor a ela, que quando chegasse ao carro contasse à filha sobre a sorte que ela tem, ao ter Maria Helena.

Provavelmente nunca mais eu encontre com essa senhora. Mas duas coisas me tocaram profundamente. A solidão de quem está mesmo em casa, com a família e sente irreconhecido, ou seria, apartado? A solidão que faz com que as pessoas pareçam peças decorativas, a solidão da velhice. A solidão de quem tem tanto a dizer e ninguém a ouvir.

Senti tanto amor por Maria Helena e recebi tanto amor da parte dela...foi pouco tempo, mas tempo é um elemento estranho quando se fala em afetos.

Maria Helena, que teu tempo de afetos seja muito maior do que o número de vezes que tentas conter tuas lágrimas.

sexta-feira, abril 29, 2011

Eu gostava de ti, amor!


Eu gostava de ver o amor. De sair à rua e de repente encontrá-lo no café, ou talvez na classe de inglês básico para adultos. Mas não um amor de filme, um amor de cumplicidade construída, de exigências negociadas e de amizade duradoura.

Eu gostava de ter esse amor. Das sessões de cinema e de passeio sem pretensões. Do guarda-chuva dividido em pleno inverno de um hemisfério qualquer. Dos braços dados de quem vê no outro o companheiro de uma jornada, pequena ou curta, não sei, só o caminhar saberia.

Eu gostava de viver esse amor, com mais sabores do que dores, é facto. Daqueles que com o passar do tempo se mexe levemente os lábios - quase em silêncio -, porque já sabe a história que o outro está a contar, mas não tem importância em ouvir de novo. Um amor sem medo, ou mesmo assustado, que se atreva a tentar saber o que quer. Um amor de beijos, muitos beijos, roubados, afobados ou até afogados em águas de saudades.

Eu gostava de ter segurado em minhas mãos um amor desses. Mas amor não se prende, se deixa solto a voar os percursos necessários para que cresça e faça ninho. Não te percebi bem, amor, daí tal como pássaro, foste. Bem sei que estás por aí, algures.

Eu gostava de te ver, de novo, amor.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Para uma cidade que sobrevive apesar de...


Hoje minha cidade comemora anos. Penso que se Belém pudesse recitar, talvez os versos de F. Pessoa (Álvaro de Campos) no maravilhoso "Aniversário" traduzissem o que sente essa senhora maltratada.
Daqui, de longe, o contra-ambiente revela ainda mais minha ambiguidade em relação a uma cidade onde vivi e sonhei. Contudo, para além da nostalgia, não consigo deixar de pensar que é possível, sim, uma Belém para todos. Onde a história a ser preservada e o novo que convém convivam em paz. Uma metrópole que leve o mínimo de conforto aos que nela moram e a tolerância seja mais do que simples retórica.
Um lugar onde a cota parte de cada um revele cuidado e amor. Envolvimento o suficiente para no mínimo escolher bem quem é/será o fiel depositário por quatro anos (ou oito) de Santa Maria de Belém do Grão Pará.
Registrei essa foto, de um velho casarão na 3ª rua de Icoaraci, cujo esplendor do final dos anos 1960 eu presenciei e que hoje se mostra assim. Essa imagem traduz um pouco como vejo a minha Belém. Entretanto, não é nada, mas nada mesmo do que boa a vontade, a inteligência, a competência, o amor e a honestidade não trouxessem de volta o belo, o antigo e o novo. De todos e para todos.
A nós belemenses, de longe e de perto, parabéns pela esperança - que mesmo tímida guardamos dentro de nós.
Saudades!

terça-feira, março 02, 2010

A uma certa Raimunda


Raimunda perdeu os três filhos. Todos pequenos. Todos mortos num incêndio no barraco onde moravam na periferia de uma grande cidade, de um país de Terceiro Mundo “em desenvolvimento”. Dizem os vizinhos que a mãe deixara as três crianças sozinhas em casa e saíra para ir a um bar. Raimunda se apresentou espontaneamente à polícia, pode ter preferido ir presa a ter que enfrentar a fúria dos vizinhos. Nos diários locais, somam-se imagens dos restos de madeira calcinada, de curiosos e da Raimunda - uma negra e descabelada mulher de olhar indefinido.

Perdeu três filhos, queimados pela fúria das chamas que consumiu a frágil casa de madeira. Raimunda vai ser acusada de negligência, há rumores de que as crianças eram maltratas por ela. Durante três dias seguidos, os diários requentam a história, com um novo e pequeno adendo aqui ou acolá. A mesma imagem da Raimunda, o mesmo olhar indefinido. Ela, dizem os jornais, não acreditava que o fogo era em sua casa, de longe espiara a fumaça, mas não podia crer que era no lugar onde se espremia juntos aos filhos. Raimunda alega que tinha saído de casa só por alguns momentos, eles não poderiam ter morrido, repetia a si mesma. Só acreditou ao ter que reconhecer os restos humanos, corpos queimados - dos filhos da Raimunda.

A história pode se passar em qualquer lugar. Nas centenas de barracos espalhados pelo mundo, em qualquer um deles onde existam barracos. Pode ser realidade, ou ficção - como enredo transversal no último filme de Scorsese. Não importa! Os barracos e as Raimundas sempre estiveram aí, na mesma. O mundo sempre as olhará como Medéias. Mas quem se ocupa de decifrar o olhar indefinido da Raimunda? Quem se detém ao pensar de que ordem é a dor, a dor da Raimunda? Não importa! Em uma semana, outra Raimunda vai ocupar os mesmos espaços nos diários, de qualquer dos mundos, mas sempre neste amargo planeta.

Foto: Escultura de Frans Krajcberg.

terça-feira, julho 14, 2009

Aos que se vão


Morrer faz parte da vida. Uma verdade inconstestável sempre presente na boca da minha saudosa e sábia mãe. Os pais vão embora, outros parentes e os amigos também. Entre outras
mazelas de envelhecer uma delas talvez seja a pior de todas, ver partir as pessoas que amamos e admiramos. Mas, por vezes, a perplexidade me toma quando me dou conta de que alguns humanos - feitos de barros especiais e únicos em sua missão - deixam muito mais que a saudade da presença física. Algo de maior se foi também. As especificidades que fazem dessas pessoas únicas. E, assim, na minha história a caminho da velhice já se somam muitas e irreparáveis perdas.
Em pouco mais de um mês lá se foram dois amigos queridos. Walter Bandeira deixou além da maneira única de dizer que me amava e se preocupava comigo - principalmente depois de além-mar-, as lições de que ser gente é acima de tudo dar de cara com o lado mais difícil que todo mundo tem. Ao cantar "Joana Francesa" toda vez que eu estava presente, ele dizia à minha mente tão cansada"acorda, acorda, acorda... vem molhar meu colo, vou te consolar".
O Juca, um dos mais inteligentes e generosos intelectuais que tive o prazer de conviver em Belém, me deixou como grande lição de vida o respeito às diferenças. Nossa admiração era mútua e, certamente, o bom jornalismo que ele fazia deixará um vazio enorme, pois com a quase total pobreza de nossa grande imprensa, ele lembrava sempre que o papel do quarto poder é atuar para e pelo interesse público.
Muita saudade, mais umas ao rol que carrego no peito.
A vida é assim, custo a crer, mas é. Um dia também completarei meu tempo. Cedo ou tarde. Minha crença diz que só Deus saberá. Enquanto isso, acumulo essas ausências e tento transformá-las numa maneira de manter somente as melhores lembranças - que é pra ver se posso tentar dar um travão na tristeza que me consome.
Ao Walter, ao Juca....meu afecto para sempre.

p.s: O casarão da foto (na 3a. rua de Icoaraci), assim como as pessoas, também encontra seu fim. Hoje restam ruínas que não me apetece evocar. Prefiro essa imagem, que é da minha infãncia, quando eu achava que ali moravam as pessoas mais ricas e felizes daquela Vila de Pinheiros.

quinta-feira, maio 28, 2009

Liz Fraser

Nunca vou me cansar de ouvi-la.
http://www.youtube.com/watch?v=URvC-7lcrvI

As ruínas dos nossos dias


Casas velhas e aos pedaços sempre despertaram minha imaginação. Quanto mais em ruínas, mais motivados os pensamentos. Creio que as casas são como as pessoas, guardam histórias - de dores, de  amores, de alegrias - assim como nós. Talvez a diferença esteja no facto de que sobre as histórias que registramos podemos nós mesmos contar. Às casas não é delegado poderes de fala tão simplesmente porque quando deixadas ao sabor do tempo, restam as paredes mal caiadas e as coberturas a desabar. Se há quem sobreviva a elas, contam-se suas histórias. Mas se não há, seus restos suscitam possíveis narrativas fantasiosas em grande parte. E, tal como nossos corpos, não sobrevivem ao tempo. Este sim, implacável, mas que em mim não suscita mais a imaginação, apenas o vejo passar.